Escrever sobre a história da escravidão no Brasil não é tarefa simples nem tampouco agradável em determinados contextos.
Essa é uma chaga que nosso país ainda carrega mesmo após mais de um século do fim deste período tão complicado e triste em nossa história, afinal foram mais de 300 anos de escravização negra por aqui.
Neste artigo eu apenas coloco em poucas palavras algumas informações sobre como se deu em parte a escravidão em Nova Friburgo.
A Fazenda do Morro Queimado
A maioria de nós quando pensa em uma fazenda pensa em um espaço com alguns poucos ou vários hectares de terra. Contudo no passado eram mais comum existirem fazendas enormes.
A antiga Fazenda do Morro queimado por exemplo abrangia Nova Friburgo e as cidades de Bom Jardim, Duas Barras e Sumidouro.
Antes de receber os colonos da Suíça essa fazenda pertenceu ao senhor Correia Dias e posteriormente ao Monsenhor Miranda que foi quem vendeu a mesma para o governo real da época. Você inclusive pode conferir o decreto que ratifica a compra da Fazenda.
Tudo indica que já existia trabalho escravo na fazenda antes da chegada dos Suíços.
O passado do povo negro de Nova Friburgo
Eu não poderia sequer iniciar esse artigo se não tivesse acesso ao livro do professor Rodrigo Marins Marretto: "A Escravidão Velada".
Ali podemos ver inclusive a origem africana dos escravizados de Nova Friburgo. Neste livro encontramos de forma profunda e documentada boa parte da história destas pessoas que não gozavam da liberdade.
Liberdade essa que está até no nome da cidade conforme já analisado aqui mesmo anteriormente; mas que foi negada ao negros escravizados do "Morro Queimado".
A tese explora as práticas de escravidão ocultas na formação de Nova Friburgo na primeira metade do século XIX.
No livro o professor Rodrigo, fazendo uso de documentação histórica disponível, traça uma verificação do papel desempenhado pelos escravizados durante o período de 1820 até 1850.
A participação destas pessoas e sua relação com o desenvolvimento da antiga Nova Friburgo é também analisada através dos relacionamentos estabelecidos entre quem possuía escravos.
Para mim uma das descobertas mais surpreendentes é que alguns colonos suíços que nunca tinham entrado em contato com a escravidão na Europa acabaram por também "possuir" pessoas negras escravizadas algum tempo depois de chegarem por aqui.
Você pode ter acesso a dissertação de mestrado que deu origem ao livro clicando aqui. Caso queira comprar o livro o mesmo está disponível na Amazon.
O Barão dos Escravizados
É importante também neste breve artigo mencionar um personagem que ficou para sempre marcado na história de Nova Friburgo e que foi um dos maiores comerciantes de pessoas escravizadas no Brasil.
Estou me referindo ao Sr. António Clemente Pinto, mais conhecido como o Barão de Nova Friburgo.
De acordo com um artigo, de Camila Dias Amaduro que é pesquisadora, graduada em História, o comércio de escravos e a plantação de café com mão-de-obra também escrava contribuíram muito para a manutenção do poder da família Clemente Pinto durante muito tempo.
Hoje a prefeitura de Nova Friburgo fica em um prédio reconhecido como Palácio Barão de Nova Friburgo.
Será que essa menção é realmente necessária?
Olhar para frente sem esquecer o passado
É fundamental que possamos sempre olhar para o passado com uma visão da realidade presente e entender que o que existe hoje em muitos lugares é fruto também da exploração cruel do povo negro.
Felizmente o mundo mudou para melhor com o fim da escravidão a partir de 1888 aqui no Brasil.
Embora os negros tenham sido abandonados a própria sorte em um país cheio problemas para resolver com o seu passado, mas com um presente cheio de esperança e possibilidades para um futuro melhor.
Dessa forma cabe sempre homenagear a perseverança e luta dos negros através da análise do legado dessas pessoas que contribuíram para o passado de Nova Friburgo e que são parte integrante da nossa realidade presente.
Felizmente hoje nosso município reconhece também esse legado através da existência da Colônia Pan-Africana e do Centro Cultural Afro-Brasileiro Ysun Okê na Praça das Colônias.
Prefiro as desordens da liberdade ao sossego da escravidão." - André Rebouças